Setembro de 2014: Novo Acordo. Problemas ortográficos:
Correções às Regras do AO de 1990. Evanildo Bechara
EM BUSCA DA UTOPIA
Ver também:
2010 - Os novos proletários. Falência desta democracia Ocidental. Os ultrapossidentes. (aqui)
Bibliografia de consulta dos estudos sobre utopias
Bacon, Francis; Nova Atlântida, e. Editorial Minerva.
Campanella, Tomás; A Cidade do Sol, e. Guimarães & C.ª Editores.
Comte, Augusto; Reorganizar a Sociedade.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, e. Editorial Enciclopédia limitada.
Marx e Engels; Manifesto do Partido Comunista, e. Centelha, Coimbra, etc.
More, Tomás; Utopia.
Moser, Fernando de Mello; Tomás More e os Caminhos da Perfeição Humana, e. Veja.
Nagl, Manfred; Literatura Utópica (que serve de inspiração para uma boa parte do estudo seguinte) in Panorama da Literatura Universal, Lexicoteca, e. Círculo de Leitores.
Os Quatro Evangelhos (Novo Testamento), e. Difusora Bíblica.
Platão; A República, e. Europa América.
Autor; O Céu (Im)possível.
Além destas obras acima citadas, existem vários outros trabalhos utópicos, como: Harrington, James: Oceana. — Mandeville: A Fábula das Abelhas. — Fénelon: Viagem em Salento. — Mercier: L´An 2440. — Lytton: The Coming Race. — Wells: Anticipations, A Modern Utopia, New Worlds for Old. Etc.
Com o objectivo de nesta página se agruparem as ideias gerais sobre `a busca da utopia´, repetem-se algumas notas, consideradas importantes, que já foram citadas noutras páginas deste `sítio´.
Observação prévia
Sonhar é fácil, como diz o povo; idealizar uma sociedade perfeita tem sido desde os tempos históricos uma aspiração da humanidade. Como se observa na bibliografia acima, os projetos foram muitos. O problema está em conseguir realizá-los com essa pretendida perfeição. Depois de alguns ensaios e erros, pelo menos talvez se possam considerar os seguintes princípios base:
A escolha dos governantes tem de ser livre, periódica, bem limitada no tempo e universal (por todo o povo e não só por uma camarilha que se autoproclame representante e com o direito de tudo decidir, sem ouvir o povo, como numa autocracia). Tem de haver um equilíbrio sensato entre equidade e promoção do mérito; entre liberdade e bem comum, segurança, justiça eficaz, estimada pelo povo (mas ela própria efetivamente com penalizações nas suas faltas ou omissões por negligência, como todo o povo); entre solidariedade (sem oportunismos, dependente da riqueza disponível, sem sacrifícios exagerados aos mais capazes...) e progresso material coletivo; entre bem-estar no presente e sacrifício pelo futuro; entre posse, desfrute ilimitado individual de bens e elevação do espírito humano (a ética, a honestidade, o valor artístico e da beleza só inerentes à nossa espécie...).
Definição de utopia
A designação utopia remonta a Thomas More, inspirado na «República», de Platão. O termo, que se pode escrever U-topia, significa não-lugar, isto é, terra inexistente na vida real. Tem como variante Eu-topia, com o significado de região da felicidade.
O conceito que se reteve com o tempo foi o de um projeto para um mundo melhor, de uma Sociedade Perfeita. Projeto normalmente que parte duma crítica às sociedades existentes, para depois imaginar uma organização social mais justa, onde as pessoas vivam felizes, sem constrangimentos. O que pressupõe o estabelecimento dum quadro de valores com prioridades, bem estruturado e consensual na consciência coletiva; mas exige, por outro lado, a necessidade de algum sacrifício das tendências egoístas individuais, que serão subordinadas ao interesse comum.
Este conceito sofre depois uma inflexão na modernidade. São postos de parte quaisquer valores e considera-se utopia toda a futurologia ou imaginação fantasista.
O estudo de Bloch intitulado «O Princípio da Esperança» generaliza o conceito de utopia não só à literatura, mas também à arquitetura, à música, aos manifestos revolucionários, etc.
Obras utópicas resumidas (textos do livro do Autor «O Céu (Im)possível»)
platão —
more (lat. Thomas Morus) —
campanella —
marx —
religiões —
A impossibilidade de realização das utopias
A crítica atual pessimista ou `distópica´que se ouve sobre a civilização ocidental
resumo —
desenvolvimento das ideias críticas —
A visão otimista, na busca permanente da utopia
Estes tópicos da utopia, acima, estão desenvolvidos no trabalho do Autor: «O Céu (Im)possível», livro II: «A Sociedade Perfeita. Estatutos». O livro I versa ainda dois temas alheios à utopia: A atual emancipação da mulher ocidental, com as suas grandes implicações na sociedade e, o atual também, "encontro instável no desencontro heterossexual", com as respetivas consequências, nomeadamente na busca de novas soluções de união na igualdade de interesses das pessoas.
Nos Estatutos, com a sua aplicação prática no livro I, estuda-se este presente momento de transição para uma nova democracia que se sente necessária (em busca da utopia).
Para se dar uma ideia do tema propriamente sobre a utopia versado no livro, transcreve-se seguidamente uma parte do Prefácio com que se inicia o trabalho «O Céu (Im)possível».
NOTA: todo o texto está já escrito no novo Acordo:
Os novos proletários. Falência desta democracia Ocidental.
OS ultrapossidentes
Prefácio do livro «O Céu (Im)possível»
Medidas draconianas (aqui)
Uma nova utopia (aqui)
A utopia deste livro tenta resolver o atual dilema da organização social nas sociedades avançadas, para as quais Francis Fukuyama disse que a democracia é o fim da história. A verdade, porém, é que, no enorme aumento da necessidade de meios de subsistência para manter o `status´ da vida moderna, a classe média (com o encargo de casa e carro condignos, educação superior dos filhos, etc., abusada nos impostos [IVA + IRS] muito significativos nos mais diligentes) a classe média, é, nos nossos dias, o proletariado produtivo que Marx hoje certamente elegeria para convocar para a luta: «Proletários de todos os países uni-vos», disse ele. Diria talvez hoje de novo...
A organização social atual das democracias desagrega a sociedade. Faz só, quase, a solidariedade teórica marxista (medida 2 do Manifesto do Partido Comunista: imposto fortemente progressivo) sobre o rendimento individual da classe média. Uma medida aplicada com artifício, para calar os ditos progressistas, pois praticamente incide só nos produtivos (de produtos transacionáveis, evitando importações ou especialmente os destinados à exportação; aqueles que estão em ação nos serviços para apoio a essa produção e, particularmente, nos serviços exercidos por empresas nacionais no exterior do país; todos aqueles que produzem efetivamente riqueza com o seu labor, ou que trabalham servindo o povo no necessário e suficiente: administração do Estado, segurança, saúde, educação, empresas básicas na independência nacional).
Limitado o imposto a menos de 50%, a atual democracia dita social continua a permitir a acumulação ilimitada da riqueza por sabidos, defendidos no seu poder, que lhes permite um escandaloso arrebanho de bens naquilo que lhes deixa. Se generalizassem Marx com justiça, haveria um imposto individual sobre o património, esse, sim, fortemente progressivo nos aumentos de riqueza, e até mesmo 100% a partir dum limite equitativo com a riqueza do país (o que uns têm a mais têm outros a menos).
Os factotos destes sabidos dizem que a progressão do imposto nos produtivos é uma discriminação positiva no favorecimento aos fracos rendimentos, mas não dizem que é negativa para os mais laboriosos, pois discrimina o mérito, na peregrina ideologia comunista de dar a mesma paga a toda a gente, uma interpretação abusiva da parábola bíblica dos operários, esquecendo a dos talentos. Nos Estatutos defende-se que o imposto no rendimento produtivo tem uma taxa única ("flat tax" no IRS), sem as progressões que penalizam duplamente o mérito (no valor daquilo que o mérito consegue, sobrecarregado absurdamente de um fator de castigo que aumenta com esse mesmo mérito). Com taxa única, todos são tributados de acordo com o valor numérico atribuído à sua produção e, não, contranatura, castigando a sua capacidade de produção; pois tal convida à fuga ao imposto tornado injusto, ou convida ao desinteresse pela superação. Num regime mais aperfeiçoado de promoção dos mais capazes, deveria era haver prémios de redução de taxa aos mais produtivos. Os vindouros certamente considerarão a atual progressividade das taxas de desconto sobre a produção uma ditadura marxista antiprogresso.
É dever individual contribuir para os encargos do Estado (administração, património comum, forças armadas, educação pública, serviços comunitários com preços subsidiados [saúde, água, transportes, energia, etc.]). A solidariedade está na contribuição proporcional aos rendimentos e bens de cada um, já tanto maior quanto maior for, mesmo com taxa igual. O cuidado com os desfavorecidos deverá ser missão exclusiva do total obtido nos impostos, cuja taxa terá essa necessidade em conta, sempre dentro do bom senso de ser adequada à riqueza global e de não prejudicar a evolução positiva da comunidade ou fomentar a negligência e o oportunismo.
A atual democracia tem o grave defeito de ser governada não por elites como devia, mas pelos demagogos que conseguem obter muitos votos. Ora no sistema `uma pessoa uma voto´, o maior número de votos não está nos mais produtivos, que são em menor número, e, assim, são sacrificados à demagogia. Para promover o progresso e se conseguir governantes não demagogos, a ponderação dos votos deveria ter em conta a produção obtida com o labor individual, excluindo rendimentos financeiros, que devem ser, esses sim, limitados e sujeitos à forte progressividade no espírito de Marx (que hoje ficaria admirado como a sua ideologia foi desvirtuada contra os produtivos e bem a favor dos capitalistas).
Quanto às classes das sociedades, temos de aceitar que é uma tendência natural das comunidades humanas assim se organizarem. Lembremo-nos dos patrícios da Antiguidade clássica, e que, na sua “República”, Platão preconizava a existência de quatro classes distintas: camponeses, artesãos, guerreiros e governantes. As monarquias organizaram-se em clero, nobreza e povo (um chafariz em Lisboa invoca ainda o tempo em que havia bicas distintas para cada uma das classes...).
Marx concebeu uma sociedade que tinha como um dos princípios base não ter classes; mas na sua aplicação prática acabou por se implantar uma nomenclatura com privilégios especiais, até com supermercados próprios, onde nada faltava, enquanto o povo anónimo sofria escassez e penava em filas de espera.
A existência de classes sociais é uma característica das comunidades humanas, dado que as pessoas são naturalmente diferentes. Luta-se contra a natureza quando se pretende contrariar as tendências naturais nos grupos humanos. Um cidadão laborioso e que contribui para a riqueza da Grei não é considerado, no inconsciente coletivo, da mesma maneira que um indolente (e esse inconsciente sabe distinguir bem o desafortunado na saúde, a criança e o alquebrado). Um magistrado idóneo deve ser protegido na sua função para ter paz de espírito na aplicação da justiça. Um governante que zela pelo interesse comum tende a ser particularmente acarinhado pelos protegidos.
A separação em classes sociais não será um defeito, se a todos for permitido ascender a outra classe, com iguais oportunidades, e que a distinção se faça exclusivamente pelo mérito na capacidade e no empenho.
O que acontece presentemente é que, desaparecida a aristocracia ou a fidalguia com a sua indumentária característica de classe, todos se vestem sem grandes diferenças, fingindo a tal sociedade sem classes marxista, para enganar tolos. Na realidade, a civilização ocidental, com base nos critérios da democracia americana, alimenta uma abissal diferença de classes entre os detentores da riqueza (menos de 20% possuem mais de 80% da riqueza total) e a classe que a produz, abusivamente feita novos servos da gleba. Poder atrai bens na razão direta deste poder; e essa abissal diferença converte em balela a igualdade de oportunidades na formação dos jovens, nas cunhas para os empregos, nas progressões da carreira, na influência que tem na escolha dos dirigentes e, até, dos governantes.
Além disso, com o seu ideal excessivamente libertário, esta democracia está a permitir abusos a todos os níveis: • dos malfeitores de rua, quase sem punição; • de financeiros com as suas manobras de usurários e os seus paraísos fiscais; • dos espertos da corrupção, que sabem bem iludir as leis; • de uma Justiça em autogestão, com delongas sucessivas e decisões contra o inconsciente coletivo, deixando dúvidas de o Estado ser mesmo `de Direito´; • dos políticos que ignoram a ética grega da `politiké´: que se autopromovem em privilégios, se destinam os cargos de influência na sociedade civil e são responsáveis pela má justiça.
Com o aliciamento no crédito fácil feito pela banca, o cidadão produtivo esqueceu que o cartão de crédito tende a encurtar a duração do mês de salário. Beneficiou do desfrute imediato dos bens e do conforto, mas a banca fez ainda mais riqueza no valor dos juros que lhe sugou. Crédito onde o sistema convida a que todos sejam proprietários da sua habitação, o que é um absurdo quando, no seu conjunto, o povo não produz para tanto, vivendo, assim, acima das suas posses... Descalabro que põe os países na tábua encerada. Tábua numa inclinação levada à beira do desastre por gestores de opereta, centralizados só em conquistar votos para o partido e que bem seriam substituídos por uma das tais donas de casa que conseguem fazer esticar o seu orçamento sempre.
Depois, o deslize no plano inclinado ficou imparável na crise financeira, que eclodiu em 2008.
A construção de habitações não envolve só tijolos e cimento, tem à sua volta um mundo de atividades, desde os sanitários aos eletrodomésticos ou mesmo aos móveis. É tentadora como motor de desenvolvimento, é atrativa porque há sempre pessoas interessadas em terem uma casa ou outra melhor. Neste mercado tentador, a finança jogou por todo o mundo em força com o seu crédito à habitação. Só que o fez sem ponderação quanto ao retorno garantido das hipotecas e numa ganância de resultados em volume. O dinheiro cedido pelos bancos e entidades de crédito foi para todos os obreiros do produto final e entrou no fluxo económico em abundância.
Nesta altura foi captado pelos asiáticos sabidos, nas suas maciças trocas de bens com “dumping” por divisas do Ocidente. A também ganância das grandes multinacionais tinha levado os Governos a negociarem um mercado global na miragem do grandes mercados chineses e indiano, indiferentes ao colapso das atividades que iriam entrar em concorrência com a mão-de-obra oriental baratíssima. O resultado foi pulularem por toda a parte casas chinesas a venderem produtos a preços escandalosamente baixos, o que tentou a população. Diz-se que a China tem um superavit de divisas enorme.
A bolha de abundância estourou quando começaram a falir em série as atividades que não se aguentaram com a concorrência barata, ou mesmo no ciclo de retração após a expansão exagerada. Então, os desempregados deixaram de pagar as hipotecas, então, de repente, os bancos descobriram que não havia retorno suficiente e que nem sequer conseguiam fazer os resgates do dinheiro que neles tinha sido depositado de boa-fé.
Mais, descobriu-se que havia uma estranha cascata de troca planetária dessas hipotecas, num negócio virtual, porque com alicerces de areia.
Acresce que muito do dinheiro em abundância circulante tinha sido posto a bom recato pelos depositantes dos paraísos fiscais.
Hoje, dá que pensar a facilidade com que os bancos promoveram que se espalhassem sem conta habitações a crédito por toda a parte. É até assustador meditar no dinheiro aplicado nessas vastidões de casas que se veem, dinheiro em grande parte pedido ao estrangeiro e que não pode ser devolvido nos múltiplos incumprimentos.
A crise foi, claro, o pretexto para a banca sacar o que tinha emprestado no canto de sereia, deixando dramas sem fim e embrulhando-se como negociantes de imóveis e de carros (chegam a vender-se casas e carros em saldo; uma viagem pelas cidades mostra uma confrangedora enormidade de placas a anunciar a venda de andares). Permitiu verificar como é absurdo a generalidade dos indígenas serem proprietários das suas casas, e a culpa que os Governos têm não fomentando o mercado do rendimento. Permitiu verificar tristemente, nalguns casos, que há até banqueiros que abusam da confiança de quem neles deposita as suas poupanças com promessa garantida de lucro e retorno. Não é só ladrão quem tira uma carteira...
Agora muitos Estados exigem sacrifícios aos seus habitantes para repor o equilíbrio das contas, após a necessidade de ajudar no desemprego provocado pelos desmandos dos banqueiros e especuladores. Mas os Estados imprudentes gastaram demais... Deviam ter tido visão de longo prazo e reduzido logo despesas.
Considera-se acertado que haja um imposto de solidariedade da parte dos que conseguem manter o emprego, para aqueles que o perderam; mas já não se entende que os responsáveis pela crise não entrem com uma quota-parte muito e muito significativa. Ora o que se observa é que têm sido quase nulas as compensações exigidas aos maus banqueiros pelo insensatez dos empréstimos, que conduziram agora ao desalojamento de casa e carro das famílias. O que se observa é que não há castigos que se vejam aos responsáveis por perdas de poupanças. O que se observa é que os especuladores continuam impunemente a explorar o povo. De facto, não basta, só, aplicar agora um imposto justo à banca que foi culpada e aos especuladores, para que comparticipem na recuperação da economia e na ajuda aos desempregos que fomentaram. Seria necessário que a sua comparticipação fosse da ordem dos dramas que provocaram.
E seria bem a altura de os Estados, nisto, lembrarem bem Marx, concluindo que não devem deixar o fluxo do dinheiro em grande volume exclusivamente nas mãos de particulares, mesmo que esses banqueiros sirvam bem o povo, como ainda há alguns. Sem o exagero de nacionalizarem toda a banca, pelo menos deviam considerar de interesse nacional haver um banco estatal muito dominante que alimentasse eficazmente a economia e moralizasse a finança. Seria também a altura de os Estados atacarem em força os paraísos fiscais, depósitos ilegítimos de desvios; e país que os favorecesse deveria ser ostracizado.
Seria igualmente a altura de se meditar no tipo de sociedade social que esta atual democracia social construiu (há países onde as prestações sociais atingem quase metade das despesas do Estado, e algumas abusivamente sacadas por oportunistas, que assim roubam não só os contribuintes, mas também os verdadeiros necessitados). Ponderar até que ponto não haverá excesso de proteção social para os meios de que o país dispõe, e se essa proteção não retira capacidade de competição com outros povos sem tais benesses. Povos que nos vêm sugar riqueza e provocar um empobrecimento generalizado, acabando por comprometer até o generoso Estado Social. Ponderar até que ponto é justo sacrificar assim a classe produtiva à ideologia marxista (as religiões recomendam a solidariedade ["Vai, vende tudo, dá aos pobres e segue-me"], não a impõem à força ["Dai a César o que é de César ....."]). Se é justo haver reformas de montante escandaloso e manter uma pressão brutal sobre quem ganha para elas (pela teta da vaca das reformas saem até reformas vitalícias com tempo reduzido de atividade e sem descontos para tanto...). Se é aceitável os jovens andarem angustiados à procura de emprego, enquanto muitos instalados em empregos efetivos não podem ser despedidos, mesmo não merecedores do posto de trabalho que cativam.
Voltando ao tema da invasão em curso do Ocidente por outros povos, quem são, afinal, estes ultrapossidentes que manobram no Ocidente e contribuem para o seu enfraquecimento? São as poderosas multinacionais e os tais detentores da quase totalidade da riqueza, particularmente em dinheiro, entre os quais estão os magnatas da energia primária, da qual o Ocidente depende. Pode avaliar-se o seu enorme poder nas regalias que conseguem dos Governos: nos empreendimentos faraónicos de utilidade social discutível ou nos impostos com a progressividade marxista só para os outros, pois os seus lucros de muitos milhões têm uma taxa escandalosamente reduzida.
Há em todo o Planeta um sinistro submundo financeiro de grande poder, que atua nos moldes e em consonância com alguns bancos privados menos idóneos. Oferece a sua riqueza aos Estados para os investimentos, mas é implacável nas contrapartidas, mesmo que isso implique bancarrotas. Estas talvez estejam mesmo nos objetivos de alguns. Dá que pensar também o que se passou nos EUA com o empolamento virtual das trocas financeiras com base na proliferação de crédito para a classe média e deu origem à crise que acabou por se espalhar pela Europa. Se não tem a intenção secreta de minar esta civilização, é pelo menos estúpida, pois atua como o ataque cego de gérmenes que levam o organismo à septicemia e à morte do hospedeiro. Estúpida pois segue o critério de Adam Smith, em busca do maior lucro possível individual, quando, depois de Nash, se concluiu que a maior vantagem se encontra ponderando também o interesse do conjunto. Uma falência da Grécia implicaria nesta data uma perda de cerca 7000 mil milhões de euros para Portugal, e, atendendo a que este país deve 67 000 de euros à Espanha, a falência de Portugal colocaria a Espanha em má situação. Assim sucessivamente, numa cascata de insolvências.
Insistamos com clareza: um novo Marx, que talvez agora faça falta, diria que luta de classes nos nossos dias é entre: duma parte, os ultrapossidentes (quem abusa do seu poder, os detentores de riqueza exagerada, muitos sem Deus nem Pátria, os especuladores da finança sem escrúpulos); e, doutra parte, `os cidadãos produtivos´. Uma luta que deve fazer-se também à escala global, como a marxista, datada, dos operários contra os capitalistas. Datada, porque hoje os operários são só parte da ampla classe média produtiva e porque nos nossos dias se concluiu que nem todo o capitalista é ultrapossidente, quando cria empregos e distribui riqueza.
Acessoriamente, e porque está intimamente ligado, foi também introduzido neste trabalho o tema da crise energética possível, devida ao facto de todo o progresso dos últimos tempos se ter baseado na utilização de energias primárias baratas, mas que são exauríveis.
Uma crise energética grave tudo pode alterar também na civilização. A explosão de crescimento na China e na Índia, com cerca de um terço da população do mundo, vai exigir caudais de energia primária; e, se não forem todos satisfeitos, é de esperar que o preço da energia primária irá disparar, nas leis da oferta e da procura.
Lembremos que os crescimentos exponenciais trazem surpresas: um crescimento de 7% implica uma duplicação em 10 anos, ...e a China tem estado com um crescimento de 10%...
Num grande aumento do preço da energia para ficar, como já houve em choques transitórios no passado, os produtivos vão ter outra vaga de desempregos nas estruturas dos ultrapossidentes montadas para o consumismo, porque até o preço dos próprios alimentos depende da energia barata. É outra espada de Dâmocles que temos sobre a cabeça.
Diz-se, na data de elaboração deste livro, que têm de ser tomadas medidas duras para que os países passem a viver segundo as suas posses. No caso de crise energética grave, serão draconianas, pois termina o mito do crescimento exponencial ilimitado, para se passar para um modelo económico de sustentabilidade, com economia de processos, de meios e sem os desperdícios perdulários do atual consumismo. Será, além disso. preciso: Reduzir substancialmente os encargos do Estado (muitíssimo menos que os hoje afetados ao pessoal e assistência social). Mentalização nos particulares para evitar despesas de rico (viagens ao estrangeiro, artigos de marca, etc.) e preferirem só produtos nacionais, eventualmente subsidiados seja de que maneira for. Perseguição feroz à economia paralela, à corrupção, ao compadrio. Incentivo generoso à agricultura, à manufatura nacional, à exportação, a quem crie empregos intensivos de pessoal qualificado. O desígnio poderá não ser salvar o bem-estar como hoje, mas mesmo a salvação do país da bancarrota. (se a leitura vem de baixo, voltar aqui)
Em Maio de 2010, muitos países foram obrigados a um choque fiscal para resistir ao ataque dos especuladores. Talvez devessem empreender um choque político, em busca de outro tipo de democracia: Além da limitação da riqueza e de uma taxa única, seria uma Etocracia (sem semiverdades ou omissões, severamente punidas). Com: liberdade de opinião mas nenhuma de agressão, nem verbal; uma tábua de valores para o nosso tempo; educação prática para a vida; culto da honestidade, com castigos proporcionais ao exemplo; justiça célere reta, eficaz, estimada pelo povo; tolerância de crenças e de culto; busca da inovação e preocupação com o futuro das próximas gerações.
A ideologia utópica propriamente dita, nesta obra, foi sistematizada no livro separado: «A Sociedade Perfeita, Estatutos», que completa o trabalho. Ao Autor pareceu preferível separar os dois livros para ir ao encontro dos diferentes interesses dos leitores. No entanto, neste livro, na Parte II, está já um resumo dos Estatutos, para orientação sobre os critérios idealizados.
Na realidade, a utopia foi elaborada em três fases distintas: A fase da conceção (os Estatutos, no livro separado); a fase da aplicação da utopia, na segunda parte deste livro; e uma última fase, a avaliação dessa aplicação prática designada por «A Utopia Possível», inserida como anexo nos Estatutos.
A ideia de conjunto neste outro tema do romance foi mostrar que a humanidade precisa efetivamente de um novo paradigma na democracia (como sugeriu Alvin Tofller).
Pretendeu também sublinhar que não se consegue idealizar uma organização social com garantias de ser logo absolutamente perfeita, e que se deve, à partida, considerar sempre que qualquer utopia tem de ser autorregeneradora, com humildade e muita persistência.
O livro acabou por se designar «O Céu (Im)possível», dada a muita incerteza `ainda´ que subsistiu no espírito do Autor quando acabou o trabalho. Mas a incerteza é uma premissa sempre presente na ciência e na filosofia...; um desafio que não tem impedido o avanço no conhecimento geral de muitas leis da natureza, e um motivo para a persistência na fé, das religiões.
Autor decidiu apresentar este trabalho escrito já no novo Acordo Ortográfico. Concluiu, por um lado, que as diferenças são pouco significativas para o leitor e que, por outro, essa projeção no tempo representa uma esperança de que livro dure mais do que o antigo acordo ortográfico vai agora durar.
D' Silvas Filho
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